sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Gertrudes - protótipo de uma das mulheres ricas

A personagem Gertrudes é a típica socialite fútil e vazia. E o programa Mulheres Ricas, da Band, nos dá uma mostra de algumas dessas "Gertrudes". Nada veio tão a calhar quanto esse programa. Pelo menos para sedimentar a personagem do romance. Abaixo, um trecho de Claraluz e o Poeta, onde Gertrudes mostra-se furiosa ao saber que Claraluz rompeu o noivado com Barretto, um rico médico endocrinologista, filho do poderoso barão Humberto, grande empresário da indústria naval, do Rio de Janeiro:


Neste momento, o celular de Claraluz toca, ela identifica a ligação e fala para Clóvis:
            — É a mãe! Só um minuto, pai!
            — Oi mãe, tudo bem? – fala Claraluz, atendendo a ligação.
            — Não! Não está nada bem! Já estou sabendo do teu ato de insanidade que cometeras ontem! Conversei com o Barretto pelo telefone esta manhã, e ele me contou sobre as tuas atitudes! Ta maluca? – responde Gertrudes, com rispidez.
            — Não mãe! Nunca estive tão lúcida como agora! – responde Claraluz. — Dormi na casa do pai, mas daqui a pouco estarei lá em casa, pois já planejava conversar contigo!
            — Eu podia adivinhar que tu estarias no Clóvis! Liguei lá em casa e a Cleuza disse que tu não havias dormido lá! – devolve Gertrudes, de forma ríspida. — Teu pai sempre passou a mão na tua cabeça, sempre quis acobertar tuas sandices, como aquele seu namoradinho, o Guilherme, aquele surfista do Leme... Seria um desastre para a tua vida se tu, porventura, tivesses casado com aquele malandro! Agora tu arranjaste um ótimo partido, um genro que toda mãe sonha para uma filha, um médico cada vez mais famoso, bonitão, bom caráter, rico, filho de um pai poderoso, e tu vai e descarta o Barretto? Tenha dó! E ainda diz que está gozando da plenitude das faculdades mentais...
            — Mãe, em primeiro lugar eu quero lhe dizer que o pai sempre foi carinhoso e atencioso comigo, e estas palavras, carinho e atenção, desapareceram das tuas atitudes. Quanto ao Guilherme, eu tinha 16 anos ainda, e ele 17. Éramos muito jovens, e o fato dele ser surfista não o impedia de ser um jovem estudioso e responsável... Quanto preconceito! E quanto ao Barretto, eu sei que ele é tudo isso que tu disseste, mas eu não o quero como marido, entende? Não é o homem que quero para passar os dias e as noites da minha vida! Eu não o amo, mãe! Eu não amo o Barretto! – responde Claraluz, sob o olhar atento e preocupado de Clóvis.
            — Amor, amor... Quantas ilusões nesta cabecinha oca e que teima em ser eternamente adolescente... – retruca Gertrudes. — Mas nós teremos uma conversa séria, muito séria lá em casa. Estou saindo de Búzios daqui a pouco, e devo estar em casa por volta das duas da tarde... — Tudo bem, querido, daqui a pouco falo contigo! – fala Gertrudes com outra pessoa, interrompendo a conversa com Claraluz, se afastando do microfone do celular, mas não o suficiente para que Claraluz não ouvisse, que por sua vez, pergunta:
            — Tu estás acompanhada de alguém?
            — Era só o encanador, meu bem, que está fazendo alguns reparos na casa! – responde Gertrudes.
            — Mas tu o tratas de querido, assim, tão íntimo? – devolve Claraluz
            — Meu amor!– responde Gertrudes, mudando o tom da voz completamente. — Tu sabes que eu tenho uma forma de tratar a todos como querido, querida, meu amor... Sabes que é o meu jeito!
            — Sim mãe! É o seu jeito de tratar as pessoas, mas as pessoas da sua rodinha social, dos poderosos que tu gostas tanto de bajular! Estes profissionais, pelo que te conheço, não são merecedores destes adjetivos da sua parte. Ao contrário, tu sempre os trataste com casca e tudo! Atitude, aliás, que nunca gostei.
            — Olha filha, acho que tu estás fazendo mau juízo de mim! – responde Gertrudes, com um pouco de insegurança. — Este encanador que está prestando seus serviços aqui é um senhor de idade. Eu o trato assim porque ele é muito simpático, e ainda se sujeitou a perder uma parte do seu domingo para terminar seus serviços, o que é uma raridade, ainda mais se tratando desta classe, onde quase todos são muito enrolados! Eu vou fazer o pagamento dos seus serviços para liberá-lo! Mas te espero em casa para termos esta nossa conversa.
            — Ta bom mãe, iremos conversar – responde Claraluz, sem se convencer das explicações de Gertrudes. — E venha com cuidado na estrada. Boa viagem!
            — Obrigado querida, e até mais tarde! – despede-se Gertrudes.
            — Tchau mãe! Até mais tarde! – despede-se Claraluz.
            Gertrudes desliga o telefone e vira-se para a pessoa que estava com ela na casa:
            — Meu amor, precisamos ter muito cuidado! A minha filha ficou muito desconfiada quando falei contigo! Acho que vacilei!